quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Ela quando lá o viu...

Quando eu chego, ele vem receber-me à porta. Sorriso guloso, olhos grandes como o Mundo, mãozinha rechonchuda no ar em jeito de boas vindas. Eu devolvo-lhe o sorriso, assim muito depresssa como quem tem medo, e depois escondo a cara no ombro da mamã. Espreito, enquanto a mamã fala com a S. sobre "aquelas-coisas-todas-que-as-mães-nunca-podem-esquecer-de-dizer-às-educadoras". Por entre as pernas da S., ele faz 'coucou'. E rimos os dois, como uns perdidos, daquele momento só nosso. Depois vamos brincar, que a S. já se esqueceu de nós e a mamã, - que é daquele tipo de pessoas a quem não escapa nada, mesmo que pareça concentradíssima "naquelas-coisas-que-as-mães-nunca-podem-esquecer" - abala porta fora da creche a cantarolar uma canção muito conhecida do Carlos Paião: "Então, bate bate coração..."

Programa de fds





"Quem não tem o que fazer, faz colheres", reza um ditado que por sinal é muito popular. Mas como nem colheres a mamã tinha para fazer, resolveu pôr a energia ao serviço de algo útil, coisa que na dormência do tédio é tarefa assaz complicada. E assim, depois de uma pesquisa nem por isso muito rebuscada, olhem só o monte de programas que podemos fazer no próximo fim-de-semana, aqui bem pertinho de casa...


ODIVELAS
HORA DO CONTO
Dois Braços Para Embalar, Uma Voz Para Contar Laboratório de sensibilização para a leitura, tendo como objetivo fornecer ferramentas e técnicas de animação do livro e da leitura …s crianças e pais. Idade: Dos 09 meses aos 03 anos + Pais Data: Até final do ano (sábado)
Local: Biblioteca Municipal D. Dinis Telefone: 219 320 770 Site: www.cm-odivelas.pt

CASACAIS
TEATRO Mãe-Mão
Espetáculo de música e dança que conta a história de uma criança que queria estar sempre de mãos dadas -- para comer, para dormir, para brincar. Idade: Dos 06 meses aos 03 anos.
Preço: 5 Euros
Data: 02 de outubro
Hora: 10:00 e 11:30 Local: Centro Cultural de Cascais Telefone: 915 816 107 Site: www.teatrodobiombo.com



OEIRAS
ti-Tó-Tis
Um baú mágico, onde a imaginação não tem limites e onde todos nos sentimos bem. O gato, o comboio e o soldadinho são alguns dos amigos que perdem a timidez e convidam o bebé para brincar.
Idade: Até aos 36 meses + Família Data: 25 de setembro Hora: 15:30 e 16:30 Local: Biblioteca Municipal de Oeiras Telefone: 214 406 342 Site: www.cm-oeiras.pt


EXPO
Concertos para Bebés no Oceanário
Os concertos são realizados por uma equipa de profissionais especializados nas áreas de música, psicologia e educação. O seu objetivo principal é estimular, desde cedo, a aptidão musical, despertando o interesse dos pais para a importância da arte musical no desenvolvimento global da criança.
Idade: Até aos 03 anos
Preço: 25 Euros/1 bebé + 2 adultos (inclui concerto e visita ao oceanário) Data: Sábados Hora: 09:00/09:45 Local: Oceanário de Lisboa Telefone: 218 917 002 Site: www.oceanario.pt


CARNIDE
CASA DO ARTISTA
Na Quinta do Tio Manuel
Workshops de Movimento e Música para Bebés e Crianças
Idade: Dos 04 aos 36 meses e dos 03 aos 05 anos
Preço: 15 Euros/02 adultos + 01 bebé
Data: 25 de Setembro
Hora: 15:45/16:45 (04/36 meses); 16:45/17:45 (03 aos 05 anos) Local: Centro de Formação da Casa do Artista (1º piso) Telefone: 933 361 304
Site: www.acasadadanca.com

Lá vamos ter de ir às compras




"Lista de material para a creche - sala 1 ano
4 colas baton grandes
2 cartolinas de cada cor - verde, azul, vermelho, laranja, castanho, branco, rosa e amarelo
Avental para pintar com mangas
1 Embalagem de lápis de cor
1 Embalagem de lápis de cera"

Com tanta coisa, quando fizer cinco anos serei certamente uma artista plástica de reputação mundial...

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Chaos a.d. (All Day)

Aqui em cima, na data, deverá ler-se 14 de Setembro, de 2010


Chove, faz sol e a mamã esqueceu-se do chapéu. Abrigou-se no prédio, o autocarro acelerou, fez de conta que não a viu e foi-se embora. A mamã desceu a rua a correr, o vento e a chuva a atravessarem-lhe a blusa fina. Fustigada pelos minutos que corriam mais do que ela estugou o passo. Vitória. Apanhou-o na curva. Mas valia não ter corrido. O raio do autocarro avariou na esquina seguinte. Há coisas que não têm mesmo que ser. E há outras que não há volta a dar. A bebé do M. Já nasceu. Com lesões cerebrais. Está nos cuidados intensivos. A vida é dura para todos, mas para alguns é implacável logo ao primeiro sopro de vida. Não há palavras para o consolar. A T. está internada com uma massa cinzenta no cérebro. Pode ser um cancro, pode ser um coágulo, pode até não ser nada nem coisa nenhuma, mas é seguramente um ponto de interrogação no futuro.
O pai não é má pessoa - e muito menos mau profissional -, mas é respondão. Ou como diria o Nicolau Breyner, naquela série de televisão sobre um condomínio de malucos, a ele ‘ninguém lhe dá baile’. O problema é que agora puseram-no a dançar ao ritmo da música deles. E o final do concerto será o que eles decidirem. A mamã desconfia que ‘eles’ não serão as melhores pessoas do Mundo para se confiar o destino de uma família.
A mamã voltou tarde, mesmo sem ter perdido o autocarro. Outros pingos de chuva a atravessarem a mesma blusa fina. A senhora da creche deposita-me nos braços dela e, assim como quem não quer a coisa, informa que sou a última a ir para casa. A mamã encolhe os ombros. Já não diz nada. Aperta-me contra o corpo. Seguimos rua abaixo. As duas. Sozinhas. Como sempre. Para sempre.