domingo, 13 de junho de 2010

Eles são de Marte



A mamã nunca leu aquele livro do John Gray que se chama "Os Homens são de Marte As Mulheres são de Vénus". Na verdade, a mamã não acredita muito nessas teorias de psicologia de trazer por casa, sejam elas do John Gray ou de outro qualquer pseudo-entendido, porque todos os seres humanos são um intrincado (e por vezes indecifrável) tapete de nuances e fios, que confere a cada uma existência emocional única e incomparável.
No entanto, mesmo sem ter lido as tais páginas, a mamã tem cada vez mais a certeza de que o título desse livro encerra uma grande verdade.

Aqui no meu bairro há muitos meninos e meninas pequeninos. É um bairro novo, cheio de famílias em início de caminhada (só no meu prédio nasceram este ano quatro bebés novinhos em folha, vejam bem!) e como tal, sempre que por aqui passeamos, é um corropio de criançada.
As meninas adoram-me: assim que me vêem no carrinho, a passear com a mamã, vêm fazer-me festinhas na cabeça, perguntam como me chamo e uma mais atrevida até já quis pegar-me ao colo! Os meninos em geral estão mais ocupados com os carrinhos, os triciclos e as bolas. Ontem estava no café com a mamã e veio um menino ao pé de nós, aí com os seus três anitos mal medidos. Primeiro olhou para mim com ar curioso, depois empunhou um guerreiro de plástico, daqueles iguais aos dos desenhos animados que disparam umas pistolas de lazer, virou-o para a minha cara e disse: 'pum, pum, pum!'. Eu cá até achei piada mas a mamã ficou com os olhos tão esbugalhados que pareciam dois berlindes.
A mamã sabia que o menino estava a brincar. A repetir as imagens que vê na televisão e que, na sua inconsciência de menino, reproduz vezes sem conta em casa, na escola, com os amiguinhos, o irmão, os filhos dos estranhos. A mamã sabe que o menino também não sabe e nem sequer imagina o que á a dor, a morte. A mamã sabe que ele brinca com as armas com a mesma pureza e inocência com que brinca com bolas ou carrinhos. A mamã sabe que a culpa é dos adultos que puseram o menino à frente da televisão a ver os adultos fazerem 'pum, pum, pum'.
Mas naquele momento a mamã confirmou uma coisa sobre a qual já desconfiava há muito tempo: as meninas já nascem com instinto maternal, com a capacidade de acariciar e embalar outros pequenos seres, ou à falta deles, os bonecos. Os meninos não. Elas são cuidadoras por excelência, eles são egocêntricos por natureza. Elas são de Vénus. Eles de Marte. O John Gray lá terá alguma razão.

E agora querem rir-se só um bocadinho? Naquele preciso momento também, por um par de segundos apenas, a mamã apeteceu-lhe ser outra vez pequenina, não ter discernimento nem razão, apelar à sua costela de maria-rapaz que continua bem viva, 'engatilhar' a mão, virar-se para o menino e... 'pum, pum, pum'!

1 comentário:

  1. Que bonito, Lee. Gosto muito de te ler. Beijinhos. Sejamos crianças por um pouco mais tempo.

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