quarta-feira, 23 de junho de 2010

Priminha



Gosto muito da minha prima. Ela é o ser mais pequeno da família a seguir a mim, apesar de nos separarem uns bons sete anos de existência. E como todos os seres pequenos de qualquer família que se preze, a C. quer brincar acima de tudo.
Ao contrário dos adultos, ela nunca se cansa nem desdenha das minhas solicitações. Ri-se quando me porto mal, dá-me beijinhos nas bochechas sujas, deixa-me tropeçar nas suas pernas e barrar-lhe o caminho.
Para dizer a verdade, quando a conheci, não atinei com ela por aí além. Assustava-me. É que apesar de ainda ser pequena, a C. consegue fazer mais barulho sozinha que uma orquestra desafinada no início do ensaio. E eu, quando ainda era um nico de gente, desconfiava muito do barulho.
Agora, porém, a prima é a minha melhor amiga pequena. Os seus gestos turbulentos já não me incomodam. A sua vivacidade contagia-me de alegria. Mas é isso que os amigos fazem uns pelos outros, não é? Fecham os olhos aos defeitos, alimentam-se das virtudes.
Gosto da prima sobretudo porque ela gosta de mim. Entendi-o quando, no meio de um abraço trapalhão, a C. disse: “serás sempre, sempre, sempre a minha priminha linda!”. O coração, dos pequenos ou dos grandes, não precisa de GPS: gosta de quem gosta de nós. É simples e seguro. Ou como diriam os economistas, tem ‘capital garantido’.

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